FONTE: GloboEsporte.com - 20/02/2016
Tricolor tem dias conturbados com crise política entre Abílio Diniz e Leco, divisão em pacto de silêncio por atrasos na imagem e derrotas que iniciam protestos da torcida
O São Paulo começou 2016 com o objetivo de virar a página de uma das maiores crises da história, com a renúncia de Carlos Miguel Aidar, mas em fevereiro se vê imerso em uma nova turbulência. Dentro e fora de campo. Nem mesmo a iminente reestreia de Diego Lugano, neste domingo, contra o Rio Claro, no Pacaembu, ameniza o ambiente, ainda mais agitado neste sábado, com o desabafo de Michel Bastos numa rede social. Entenda abaixo, ponto a ponto, os problemas políticos, financeiros e técnicos do Tricolor.
Abílio Diniz x Leco e o fator Milton Cruz
Na nova função, Milton deixou de viajar com o time para partidas fora de casa e não fica mais no banco de reservas nos jogos. Sua presença em campo nos treinos só se dá por pedidos de Edgardo Bauza. Mas ele perdeu espaço. Hoje, sente-se deixado de lado.
E o que isso tem a ver com as farpas públicas entre Leco e o empresário Abílio Diniz, aliados no processo de renúncia de Aidar?
Milton tem forte ligação com Diniz. A mudança de função do profissional, com menos atuação no dia a dia do futebol, também afeta o empresário, na visão da diretoria. Segundo os dirigentes, Diniz quer ser consultado antes das decisões importantes do clube, o que Leco não aceita.
Sem a mesma sintonia de 2015, Abílio escancarou desavença com um texto no portal UOL criticando a dificuldade que as consultorias bancadas por ele (PricewaterhouseCoopers e McKinsey) estão tendo para obter informações no departamento de futebol. Em resposta, Leco enviou e-mail a todos conselheiros rebatendo o empresário, dizendo ceder os documentos solicitados e que não ficará inerte nem calado diante de tentativas de tumultuar o ambiente político do clube. O próximo encontro dos dois será na reunião do Conselho Deliberativo de terça-feira (23), quando o empresário será convidado a discursar.
Derrotas, substituição criticada e protestos
Invicto até o clássico com o Corinthians, no último domingo (14), o São Paulo conheceu aprimeira derrota do ano (2 a 0), em jogo marcado pela falha de Lucão. Três dias depois (17), o Tricolor perdeu em casa, por 1 a 0, para o The Strongest, da Bolívia, pela primeira rodada da fase de Grupos da Libertadores. Durante o segundo tempo, a torcida perdeu a paciência com Centurión, vaiado na substituição por Rogério, e Michel Bastos, xingado em coro.
Na visão de alguns jogadores do São Paulo, o time se perdeu após a substituição feita por Bauza no intervalo. Ele trocou Hudson, que sentiu um incômodo, mas não pediu para sair, por Calleri, e a equipe não teve mais organização.
Thiago Mendes virou primeiro volante, mas ficou sobrecarregado e rendeu mal. Ganso foi recuado como uma espécie de segundo volante. Atletas do Tricolor acreditam que o time teria conseguido a vitória se a equipe mantivesse o esquema do primeiro tempo, com a entrada de Wesley na vaga de Hudson, por exemplo.
Agora, a promessa é de mais turbulência no jogo com o Rio Claro. Uma das organizadas do clube vai protestar antes da partida, no Pacaembu.
Pacto de silêncio quebrado
Depois disso, o grupo todo decidiu fazer um pacto de silêncio em protesto ao atraso de dois meses no pagamento dos direitos de imagem.
A ideia seria aplicada independentemente do resultado e a intenção era mostrar que, mesmo com o débito, os atletas correriam e venceriam o The Strongest. Mas a derrota atrapalhou os planos do grupo.
Na terça, Hudson, inicialmente escalado para dar entrevista, foi substituído por Bauza. No intervalo e na saída do gramado, nenhum jogador falou com a imprensa. Depois do jogo, porém, Lugano, Calleri e outros conversaram com os jornalistas, quebrando o pacto dos atletas.
A atitude gerou mal estar, pois não houve uma nova reunião para decidir se todos falariam diante do resultado negativo ou permaneceriam em silêncio. O vice de futebol Ataíde Gil Guerreiro confirmou o atraso e o movimento dividido no vestiário.
Alguns jogadores ficaram incomodados principalmente depois de o São Paulo atrasar os direitos de imagem e gastar dinheiro para contratação de reforços. Kieza, por exemplo, custará US$ 1 milhão (R$ 4 milhões).
Na quinta-feira, Maicon, recém-contratado, foi apresentado. O reforço se predispôs a participar do movimento de silêncio, mas não foi necessário. Lugano deu nova entrevista na sexta. Agora, os jogadores devem voltar a falar depois do jogo com o Rio Claro.
O Tricolor paga os jogadores sempre no dia 10. Os débitos de dezembro, vencidos em 10 de janeiro, começaram a ser feitos na última quinta-feira e serão acertados aos poucos. O atraso do mês de janeiro, vencido no dia 10 de fevereiro, será quitado com as luvas (prêmio por assinatura de contrato) que o São Paulo receberá quando fechar o próximo acordo de transmissão de seus jogos, provavelmente na próxima semana. A preferência é por essa opção, em vez de pegar um empréstimo com juros maior em um banco.
Os prêmios pela classificação para a Libertadores, em 2015, foram pagos nos últimos dias. Mas a premiação pela eliminação do César Vallejo, do Peru, na primeira fase, está pendente.
Crítica do assessor, desculpas de Leco e reação do elenco
O elenco ficou irritado com as palavras direcionadas a Rodrigo Caio, Michel Bastos, Centurión e Milton Cruz.
Na sexta-feira, o presidente Leco se reuniu com o elenco na presença do departamento de futebol e pediu desculpas. Depois, disse que o profissional cometeu um erro de cabeça quente e o manteve no cargo. O próprio Gaspar se retratou.
Parte dos jogadores considerou a atitude de Leco leve e esperava uma ação mais enérgica. A esperança era de que o assessor fosse afastado ou demitido.
Michel Bastos se pronunciou neste sábado, em tom de desabafo, numa rede social.